sábado, 1 de maio de 2010

MORTE E MORTOS NA IDADE MÉDIA


A morte nos faz cair em seu alçapão,
É uma mão que nos agarra
E nunca mais nos solta.
A morte para todos faz capa escura,
E faz da terra uma toalha;
Sem distinção ela nos serve,
Põe os segredos a descoberto,
A morte liberta o escravo,
A morte submete rei e papa
E paga a cada um seu salário,
E devolve ao pobre o que ele perde
E toma do rico o que ele abocanha.
(Hélinand de Froidmont. Os Versos da Morte. Poema do século XII, 1996: 50, vv. 361-372)


Na Idade Média a morte era o grande momento de transição. Transição fundamental, das coisas passageiras para as eternas. Praticamente ausente na iconografia medieval (LE GOFF, 1984, vol. II: 325) - como as crianças (COSTA, 2002: 13-20) - a morte era um rito de passagem. Ela era aguardada no leito de casa. O moribundo deveria ficar deitado de costas porque assim seu rosto estaria voltado para o céu (ARIÈS, 1989: 22).

A morte era uma grande cerimônia pública, um ritual compartilhado por toda a família, por todos da casa. Os medievais sabiam de sua chegada, pressentiam sua vinda, tinham visões que anunciavam sua morte (DUBY, 1986: 80-83). Premonições. Assim, tinham tempo para preparar seu ritual coletivo.

Pois ninguém morria só. A morte era uma festa, momento máximo do convívio social (DUBY, 1990: 65-66). Todos deveriam acompanhar a passagem do moribundo para o além, inclusive as crianças (ARIÈS, 1989: 24). Lágrimas e choro apenas por parte das mulheres: elas deveriam ficar perto do corpo e gritar, rasgar as vestes, arrancar os cabelos. Era sua função pública (DUBY, 1997: 20-21).

Seu gemido era um gemido ritual. Elas eram agentes essenciais do rito funerário (LE ROY LADURIE, s/d: 282), um antigo ritual que era uma fruição, uma chegada lenta e regrada. Era mesmo um prelúdio, a mudança para um estado superior (DUBY, 1987: 10), caso aquela alma fosse agraciada por Deus. Portanto, a preocupação, a angústia maior, não era com a morte e sim com a a salvação da alma (LE ROY LADURIE, s/d: 289).325) - como as crianças (COSTA, 2002: 13-20) - a morte era um rito de passagem. Ela era aguardada no leito de casa. O moribundo deveria ficar deitado de costas porque assim seu rosto estaria voltado para o céu (ARIÈS, 1989: 22).

A morte era uma grande cerimônia pública, um ritual compartilhado por toda a família, por todos da casa. Os medievais sabiam de sua chegada, pressentiam sua vinda, tinham visões que anunciavam sua morte (DUBY, 1986: 80-83). Premonições. Assim, tinham tempo para preparar seu ritual coletivo.

Pois ninguém morria só. A morte era uma festa, momento máximo do convívio social (DUBY, 1990: 65-66). Todos deveriam acompanhar a passagem do moribundo para o além, inclusive as crianças (ARIÈS, 1989: 24). Lágrimas e choro apenas por parte das mulheres: elas deveriam ficar perto do corpo e gritar, rasgar as vestes, arrancar os cabelos. Era sua função pública (DUBY, 1997: 20-21).

Seu gemido era um gemido ritual. Elas eram agentes essenciais do rito funerário (LE ROY LADURIE, s/d: 282), um antigo ritual que era uma fruição, uma chegada lenta e regrada. Era mesmo um prelúdio, a mudança para um estado superior (DUBY, 1987: 10), caso aquela alma fosse agraciada por Deus. Portanto, a preocupação, a angústia maior, não era com a morte e sim com a a salvação da alma (LE ROY LADURIE, s/d: 289).
ssim, a morte na Idade Média era uma agonia apenas para o usurário. Ela era temida porque era imprevisível, mas desejada pelo cristão quando anunciada, em sonhos ou visões. Ramon explica a seu filho o porquê do temor da morte e a necessidade (a virtude) de se temer a Deus:

Filho, sabes por que a morte é temível? Porque não podes fugir dela e não sabes quando ela te levará. Assim, se temes a morte, que não pode te matar mas somente teu corpo, temerás a Deus, filho, que pode colocar teu corpo e tua alma no fogo perdurável. (RAMON LLULL, Doutrina para crianças, cap. XXXVI, 9).

Naturalmente, essa era a morte no leito lenta e domesticada daquele que havia sobrevivido ao infanticídio, às intempéries da natureza, às doenças e às fomes. Mas havia também a morte na guerra, a morte antecipada, momento supremo do cavaleiro. Eles iam alegres, cantantes e ansiosos em direção à morte. Os trovadores nos contam da felicidade daqueles cavaleiros rudes quando da chegada da primavera e do momento do combate.

Bertrand de Born (1159-1197) nos fala das flores e folhas coloridas, das aves que cantavam e dos cavaleiros que gritavam “Avante”:

Digo-vos, já não encontro tanto sabor
no comer, no beber, no dormir
como quando ouço o grito “Avante!”
elevar-se dos dois lados, o relinchar dos cavalos sem cavaleiros na sombra
e os brados “Socorro! Socorro!”
quando vejo cair, para lá dos fossos, grandes e pequenos na erva;
quando vejo, enfim, os mortos que, nas entranhas,
têm ainda cravados os restos das lanças, com as suas flâmulas.
(citado em BLOCH, 1987: 307)


Assim a Idade Média tratou da morte: um rito de passagem para a morada definitiva da alma, a derradeira peregrinação do homem-viajante medieval (ZIERER, 2002). Tudo indica que o sentimento mais comum em relação à essa cerimônia é a palavra serenidade. Como o mundo dos vivos estava ligado ao dos mortos - e o papel dos mosteiros era exatamente o de interceder junto ao além pela sociedade terrestre - a morte era encarada com tranqüilidade e resignação. Paz.

A morte então foi domesticada nas consciências (ARIÈS, 1989: 19-20). Pelo menos na de cavaleiros e clérigos. A morte foi esperada e reconhecida (LAUWERS, 2002: 243), até mesmo desejada. Foi preciso a Idade Média chegar a seu fim para que novas formas (negativas) de compreensão da morte tomassem conta dos espíritos, como, por exemplo, o conceito de macabro, a Dança da Morte Macabra, que tomou conta dos afrescos e das gravuras em madeira, e exprimia a profunda angústia dos tempos da Peste Negra e da Guerra dos Cem Anos (HUIZINGA, s/d: 145-157).


TEXTO NA INTEGRA COM CITAÇÕES,BIBLIOGRAFIA E AUTOR NO LINK http://www.ricardocosta.com/pub/morte.htm

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